Friday, July 30, 2004

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para provar que não sou blogo-dependente este blog encontra-se encerrado para férias por tempo indeterminado. deixo uma pequena lista de músicas para ouvir noite dentro, estrada fora, and no place to go.

Waiting for the Miracle - Leonard Cohen
Knives Out/Exit Music (for a film) - Radiohead
Deranged - David Bowie
Burn - The Cure
Crush - Garbage
Passenger/Knife Party - Deftones
A Strange KInd of Love - Peter Murphy
Atmosphere - Joy Division
There's a Light That Never Goes Out - The Smiths
Morning Rain - I am Kloot
Behind the Wheel - Depeche Mode
Drive - REM
Walk to the Water - U2
Lilac Wine - Jeff Buckley
Song to the Siren - Tim Buckley

Running

Na rua há um português que corre. Veloz como o vento, de olhos fixos na sua própria determinação, irresoluta, inabalável. Corre com outros a seu lado, chocando ocasionalmente na rigidez de outros corpos, acusando a tensão acumulada nos músculos em esforço. Não se falam contudo, excepto para lançar alguns impropérios de passagem sem nunca no entanto cruzarem o olhar que continua pregado no seu destino, céleres como o chão que desaparece por debaixo das suas solas. Porque corre esse português, e com ele, todos os outros que formam uma imensa massa uniforme e anónima? O que os move? O que os anima? “Provavelmente andam à procura de um bilhete”, diz uma voz de passagem. Eu que já corri atrás de alguns, sei que provavelmente é verdade.

Perguntas de retórica

existirá mais algum aeroporto no mundo baptizado com o nome de uma personalidade que morreu num acidente de aviação?

será que o Mel Gibson irá voltar a protagonizar um filme onde não não faça aquelas carantonhas pavorosas, acompanhadas de crises compulsivas de choro?

será que o tipo que inventou o ditado "o crime não compensa" nunca ouviu falar de Portugal ou era apenas distraído?

por onde param as namoradas de Portugal?

e a retoma? alguém a viu sem ser nos discursos de políticos manhosos, que devem sem dúvida estar-se a referir às suas contas "off shore", perdão dos seus sobrinhos?

Psicopátria



Menos de um ano depois dos grandes incêndios que devastaram o país de norte a sul, e quando alguns diziam que já não restava grande coisa para arder, eis que regressam as chamas com mais vigor ainda, a ameaçar destronar o record de área ardida no ano passado. Aldeias rodeadas pelas chamas; pessoas obrigadas a deixar para trás casas e uma vida de trabalho, áreas de paisagem protegida perdidas para sempre, um imenso património reduzido a cinzas fumegantes. Tudo isto perante a impassibilidade criminosa dos nossos governantes, cujas promessas se extinguem assim que termina o Verão e com ele as chamas assassinas. Com este governo de Santana Lopes as perspectivas são ainda mais assustadoras. De tantas piadas e anedotas que se contam sobre Santana, este tornou-se uma caricatura, a ponto de nos esquecermos que é nas mãos deste homem que jazem os destinos da nação, e que os danos que ele pode provocar no país durante dois anos podem ser tão devastadores como os incêndios que lavram no país.
Um país que tem sido assassinado aos poucos, por políticos incompetentes fiéis apenas à sua sede de poder, à sua imensa arrogância, à sua flagrante incapacidade de escapar aos lobbies e ao compadrio. Os nossos rios, as nossas florestas, a nossa orla costeira, as nossas cidades, vilas e aldeias, o ar que respiramos, são os testemunhos moribundos de uma politica ambiental vergonhosa a que se juntam outras calamidades menos perceptíveis a curto-prazo. E o mais assustador é que os homens que poderiam dar um contributo sério e empenhado, estão cansados, desiludidos, desencantados. A política populista e mesquinha, não é exclusiva de Santana Lopes ou do PP. Está a minar tudo e todos, bastando olhar para as juventudes partidárias para percebermos que as perspectivas futuras são as piores possíveis. Por isso gostei tanto de ouvir o Manuel Alegre na entrevista de ontem na RTP. Apesar de todas as desilusões, de todas as guerras perdidas, é um homem que continua a acreditar numa alternativa à ordem pré-estabelecida, que encara a politica com espírito de missão e com o coração, e não um mero robô que programou um discurso circular desprovido de conteúdo, delineado para criar a ilusão de que se está efectivamente a dizer qualquer coisa.

Sunday, July 25, 2004

Silly Thoughts

sempre gostei de andar depressa... literalmente depressa, pelo menos desde que me lembro de mim. não propriamente a correr, que detesto, mas com largas passadas como se fosse a pessoa mais determinada do mundo, ou tivesse a certeza para onde me dirijo, o que raramente acontece. mudar de velocidade só mesmo para acelerar ainda mais nos meus tipicos ataques de pânico perante aglomerados de gente, num centro comercial, na rua, no metro... enfim acho que só suporto os aglomerados nos concertos de música, quando estou sintonizado noutra onda. não grito, não fico de olhos esbugalhados, não começo a ter suores frios, simplesmente ponho-me a deslizar por entre a multidão, até encontrar um local onde possa respirar fundo... silly thoughts indeed...

Para quem uma vida só não chega

sem querer adiantar muito, Punch-Drunk Love é um clássico vestido com um fato de polyester azul-marinho de mau corte. é um "boy meets girl" disfarçado de requiem aos anos 90, uma comédia romântica por debaixo de uma capa de humor negro e corrosivo. uma história sobre dois seres que unem a sua imensa solidão e observam fascinados ao despontar de um amor, não apenas espiritual mas também fisico, quase palpável. Um amor que lhes inunda os sentidos, que os torna imunes à agressão dos dias sempre iguais, assépticos como a luz que se espalha pelos corredores intermináveis dos hipermercados.

Tuesday, July 20, 2004

Punch-Drunk Love



"I don't know if there is anything wrong [with me] because I don't know how other people are."



Friday, July 16, 2004

World Press Photo



A partir de hoje e até 15 de Agosto no Centro Cultural de Belém.
A fotografia em cima é da autoria de Jean-Marc Bouju e venceu a edição 2003. Foi tirada em Najaf, Iraque e mostra um prisioneiro iraquiano a consolar o filho aterrorizado por ver o pai algemado e com um capuz na cabeça. os soldados acabaram por tirar as algemas ao prisioneiro para que ele pudesse abraçar o filho. há quem chame prisão, eu penso que campo de concentração é um termo muito mais apropriado.

Song to The Siren

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Tim Buckley escreveu-a para o álbum Starsailor, corria o ano de 1967. o projecto This Mortal Coil fez uma versão espantosa em 1984 incluída no álbum It'll End in Tears. Foi esta que ouvi primeiro. Foi esta versão que me fez correr em busca da versão original e descobrir a obra de Tim Buckley e foi através de Tim Buckley que "descobri" Jeff Buckley. como diria o Sérgio Godinho "isto anda tudo ligado".

On the floating, shipless oceans
I did all my best to smile
til your singing eyes and fingers
drew me loving into your eyes.
And you sang "Sail to me, sail to me;
Let me enfold you."
Here I am, here I am waiting to hold you.
Did I dream you dreamed about me?
Were you here when I was full sail?
Now my foolish boat is leaning, broken lovelorn on your rocks.
For you sang, "Touch me not, touch me not, come back tomorrow."
Oh my heart, oh my heart shies from the sorrow.
I'm as puzzled as a newborn child.
I'm as riddled as the tide.
Should I stand amid the breakers?
Or shall I lie with death my bride?
Hear me sing: "Swim to me, swim to me, let me enfold you."
"Here I am. Here I am, waiting to hold you."

Thursday, July 08, 2004

And Justice For All?



A história não é nova e faz parte integrante do triste quotidiano de gerações de mulheres, cujo destino não conheceu revolução ou evolução.
Regina Teixeira tinha 26 anos, três filhos, um pedaço de terra numa aldeia recôndita de Moimenta da Beira e um marido que a espancava e “se servia dela como um animal” como chegou a confessar a familiares mais próximos. Dois tiros de caçadeira disparados pelo marido em frente do filho mais novo, então com seis anos, vieram pôr fim a anos de sofrimento da mesma forma brutal como viveu. O Tribunal condenou o homem a 20 anos de prisão por homicídio qualificado provados que ficaram os constantes abusos perpetrados e o crime de homicídio motivado pelos ciúmes de uma suposta relação extra-conjugal nunca provada.
Interposto o recurso ao Supremo Tribunal, este reduziu a pena do homicida para 16 anos, considerando como atenuantes o facto do homem ser analfabeto e a mulher se ter recusado a manter relações sexuais com o marido durante mês e meio... em Portugal a Justiça não é cega, é uma velha estúpida e jarreta, feita à imagem e semelhança dos homens que a representam.

Wednesday, July 07, 2004

Parêntesis

A ironia não salva, mas ressalva
(Herberto Helder)

Tuesday, July 06, 2004


(Ferreira Leite reagindo à partida de Barroso para Bruxelas)

Siga Aquele Germe


Ele deixou-nos, abandonou-nos à nossa sorte e caso volte devia ser processado, presente a Tribunal e condenado.
Não, não estou a falar de Durão Barroso, estou a falar do último episódio de Anjos na América, e das palavras do profeta sobre Deus. Quanto a Durão Barroso como se sabe não é Deus, tão pouco será um cherne, diria mais que é um germe daqueles oportunistas que à minima brecha aproveita para infectar outro corpo eventualmente mais saudável. foi-se ou vai-se e espero que não volte.
Abandonados por Deus e entregues ao Satanás Lopes numa malga de ferro (ao que consta a Ferreira Leite não aprovou o orçamento de uma bandeja de prata, e passo a citar: "Baptista? qual Baptista? o único que eu conheço não paga os impostos à mais de dois mil anos e esqueceu-se de declarar a venda de um palácio - perdi a cabeça - justificou-se o gajo" fim de citação, não perspectivo portanto outra hipótese senão seguir o conselho da madame Uva: sigamos o germe e vamos todos para Bruxelas, para a Europa civilizada “where there’s music, and there’s people who are young and alive”, isto para citar outro profeta, Morrisey de seu nome. Portugal passará assim a abrir sazonalmente para férias ou para a realização de mega-eventos à escala mundial. Sigam pois o germe. Falhou-nos o Europeu, mas a Europa é nossa!

Thursday, July 01, 2004

Notas para o Diário

Às 19.45 estava a escolher as batatas na cozinha e a tentar aferir a quantidade necessária para três pessoas (sendo que duas delas comem pelo dobro e a outra pela metade). Na altura do primeiro golo estava a descascá-las com um alguidar ao colo, outro ao lado no sofá, e uma cerveja na mesa de apoio à minha frente. cinza por toda a parte, fumo também, cinzeiro a transbordar. pelo segundo golo as batatas já estavam cozidas, passadas ao passe-vite e por altura do auto-golo estava a pôr o leite no puré, o que me livrou de confirmar in loco que sobre o melhor pano cai a nódoa, daquelas que nem o supergel nos salva. nos momentos finais em inicios de digestão do puré houve ainda tempo para uns sobressaltos para manter a tradição que o pessoal gosta é de emoções fortes.
seguiu-se depois a euforia geral, o choro, o riso, as bandeiras agitadas ao vento, a cerveja em cascata, o hino entoado até à rouquidão, os cânticos monocórdicos e de inspiração minimalista (certamente uma homenagem a Phillip Glass), as palavras de ordem, os elogios aos jogadores e ao treinador (vulgo heróis nacionais), os peões de carro, as buzinadelas e por aí fora.
o futebol nunca foi o meu forte, a minha infância e adolescência decorreu longe dos campos de futebol, a bola sempre me passou ao lado e as coisas não se alteraram muito desde então. agora até gosto de ver os jogos da selecção, mas custa-me a perceber a euforia que leva as pessoas a sair à rua de bandeira na mão, ou pior ainda com filhos de poucos meses ao colo, que entre safanões mais ou menos violentos, lá vai ouvindo o papá sorridente a assegurar à senhora da televisão que a criança adora aquilo (entenda-se "aquilo" por pessoas completamente histéricas aos gritos). Mas não é só no futebol, custa-me a perceber a euforia de massas em geral, como a enchente da Expo 98 no dia de encerramento, o Algarve em Agosto, ou a abertura de uma qualquer mega-superficie comercial. mas confesso que gostava de ver o Marquês de Pombal a encher-se como ontem, de gente em protesto contra a nomeação de Santana Lopes a primeiro-ministro. mas como diria uma anónima senhora entrevistada pela SIC: "o Euro é que é importante, esses é que estão a fazer boa figura, os politicos são todos iguais, por isso entre um e outro quero lá saber qual é que é primeiro-ministro". esperemos que o ainda primeiro-ministro (sim o José Manuel, o Barroso, o Manuel Durão, o Zé como quiserem que ele não se importa) leve a gravata no próximo domingo à Luz e no final para a apoteose ser total se enforque com ela.