Tuesday, March 23, 2004

57º Festival de Cannes



A ccc celebra no seu blog o regresso de Pedro Almodovar com "La Mala Educacion" o filme escolhido para inaugurar o certame da Croisette que irá decorrer de 12 a 23 de Maio. Celebração mais que justificada e que o Céu Sobre Berlim subscreve.
Mas há mais, há muito mais. Segundo o Hollywood Reporter eis os nomes e filmes de que se fala para as diversas secções: Emir Kusturica com "Life Is a Miracle", Abbas Kiarostami com "Dedicated to Ozu", Wong Kar Wai com "2046", Walter Salles com "Motorcycle Diaries", MIchelangelo Antonioni com "Eros", Wim Wenders com "Land of Plenty", Joel e Ethan Coen "The Lady Killers", Quentin Tarantino com "Kill Bill II", Lucrecia Martel (autora de "O Pântano") com "The Holly Girl" e Rebecca Miller (filha de Arthur Miller) está a terminar "The Rose and the Snake", contando com a colaboração do seu marido, um senhor de seu nome Daniel Day-Lewis. Outros nomes de que se fala: Zhang Yimou, Mike Leigh, Olivier Assayas, Jean Luc-Godard, Youssef Cahine, Spike Lee, Arnaud Desplechin, David O'Russell e Hou Hsiao-Hsien. Como cereja no topo do bolo (não não estou a falar do senhor do bolo), estou a falar de Quentin Tarantino que irá presidir ao júri do Festival de Cannes e que irá ter uma tarefa digna do Deadly Viper Assassination Squad, para escolher o vencedor da Palma de Ouro. Vencedores garantidos para já são os sortudos que vão estar em Cannes de 12 a 23 de Maio.

Monday, March 22, 2004

Dia Mundial da Poesia

apesar de nos últimos tempos (por motivos vários, que vão desde a simples preguiça, à pouca disponibilidade e por aí fora) andar meio arredado do mundo dos blogs não quis deixar de responder ao desafio do ClanDestino. pedia-me o poema da minha vida, em vez disso publico o poema que nos últimos tempos trago colado à pele.

Carpe Diem

Confias no incerto amanhã? Entregas
às sombras do acaso a resposta inadiável?
Aceitas que a diurna inquietação da alma
substitua o riso claro de um corpo
que te exige o prazer? Fogem-te, por entre os dedos,
os instantes; e nos lábios dessa que amaste
morre um fim de frase, deixando a dúvida
definitiva. Um nome inútil persegue a tua memória,
para que o roubes ao sono dos sentidos. Porém,
nenhum rosto lhe dá a forma que desejarias;
e abraças a própria figura do vazio. Então,
por que esperas para sair ao encontro da vida,
do sopro quente da primavera, das margens
visíveis do humano? "Não", dizes, "nada me obrigará
à renúncia de mim próprio --- nem esse olhar
que me oferece o leito profundo da sua imagem!"
Louco, ignoras que o destino, por vezes,
se confunde com a brevidade do verso.

Nuno Júdice

Monday, March 08, 2004

The Show Must Go On


Os Queen foram a minha primeira obsessão musical. acho que mais do que a música propriamente dita fascinava-me a personagem de Freddie Mercury, um estrangeiro vindo da India colonial com um sotaque esquisito e uma homossexualidade latente, que exacerbou a sua diferença impondo um estilo que escandalizou muito boa gente. esse fascinio pelos "estrangeiros" que ainda hoje se mantém, talvez advenha do facto de ser filho de pais separados numa terra pequena onde o número de divórcios era inversamente proporcional ao número de homens com amantes "institucionais" e mulheres com amantes secretos... mas adiante.
O Philleas no seu Horizonte Quase Perdido, interroga-se e inquieta-se com as causas do suicidio. A ele ofereço-lhe este verdadeiro hino à vontade indómita de viver, escrita por um homem que sabia estar condenado à morte.

Empty spaces - what are we living for
Abandoned places - I guess we know the score
On and on
Does anybody know what we are looking for

Another hero another mindless crime
Behind the curtain in the pantomime
Hold the line
Does anybody want to take it anymore

The show must go on
The show must go on
Inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on

Whatever happens I'll leave it all to chance
Another heartache another failed romance
On and on
Does anybody know what we are living for
I guess I'm learning
I must be warmer now
I'll soon be turning round the corner now
Outside the dawn is breaking
But inside in the dark I'm aching to be free

The show must go on
The show must go on - yeah
Ooh inside my heart is breaking
My make-up may be flaking
But my smile still stays on

Yeah, oh oh oh

My soul is painted like the wings of butterflies
Fairy tales of yesterday will grow but never die
I can fly - my friends

The show must go on - yeah
The show must go on
I'll face it with a grin
I'm never giving in
On with the show

I'll top the bill
I'll overkill
I have to find the will to carry on
On with the
On with the show

The show must go on, go on, go on, go on, ...

Friday, March 05, 2004

Os Filmes da Minha Vida (Ou a Minha Vida Através dos Filmes)

Respondendo ao desafio do Philleas segue a lista possivel dos meus filmes preferidos.
As Asas do Desejo e Paris, Texas de Wim Wenders

Eraserhead, Blue Velvet, O Homem Elefante de David Lynch

Europa e Ondas de Paixão de Lars Von Trier

Sonata de Outono, O Sétimo Selo de Ingmar Bergman

Dersu Uzala de Akira Kurosawa

O Acossado de Jean-Luc Godard

Fúria de Viver de Nicholas Ray

Os Inadaptados de John Huston

Casablanca de Michael Curtiz

Lolita, Doutor Estranho Amor e Laranja Mecânica de Stanley Kubrick

Magnolia de Paul Thomas Anderson

Disponivel para Amar de Wong Kar Wai

Fala com Ela de Pedro Almodovar

Para Além das Nuvens, de Michelangelo Antonioni

La Dolce Vita, de Federico Fellini

Jules & Jim de François Truffaut

Taxi Driver de Martin Scorcese

Zero em Comportamento de Jean Vigo

Novos Horizontes

PROBLEMA DE EXPRESSÃO



Na ressaca do "boom" do rock português, foram muitas as bandas nacionais apontadas como "the next big thing" ao longo dos anos 90. a maioria delas não passou de um single ou na melhor das hipóteses de um álbum de má memória, que se desvaneceu nas mesmas ondas hertzianas que lhes deram fama. Das honrosas excepções constam os Clã, uma banda do Porto fundada por Hélder Gonçalves, um músico com formação de Jazz que decidiu explorar novas sonoridades, tendo encontrado na voz de Manuela Azevedo o complemento que faltava. Apesar das boas criticas e de alguns prémios os Clã sempre estiveram longe de ser um sucesso comercial na década de 90, tendo de aguardar até ao lançamento de Lustro para alcançar as 20.000 unidades vendidas, com direito a disco de Ouro. O problema de expressão dos Clã, foi resolvido com o convite a Carlos Tê para escrever as letras da banda, que diga-se, ficam muito melhor entregues a Manuela Azevedo do que a um senhor que eu cá sei...

Só pra dizer que te Amo,
Nem sempre encontro o melhor termo,
Nem sempre escolho o melhor modo.

Devia ser como no cinema,
A língua inglesa fica sempre bem
E nunca atraiçoa ninguém.

O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.

Só pra dizer que te Amo
Não sei porquê este embaraço
Que mais parece que só te estimo.

E até nos momentos em que digo que não quero
E o que sinto por ti são coisas confusas
E até parece que estou a mentir,
As palavras custam a sair,
Não digo o que estou a sentir,
Digo o contrário do que estou a sentir.

O teu mundo está tão perto do meu
E o que digo está tão longe,
Como o mar está do céu.

E é tão difícil dizer amor,
É bem melhor dizê-lo a cantar.
Por isso esta noite, fiz esta canção,
Para resolver o meu problema de expressão,
Pra ficar mais perto, bem mais de perto.
Ficar mais perto, bem mais de perto.

"Problema de Expressão" Carlos Tê

Wednesday, March 03, 2004

Sim... és tu

I've felt you coming girl, as you drew near
I knew you'd find me, cause I longed you here
Are you my desitiny? Is this how you'll appear?
Wrapped in a coat with tears in your eyes?
Well take that coat babe, and throw it on the floor
Are you the one that I've been waiting for?

As you've been moving surely toward me
My soul has comforted and assured me
That in time my heart it will reward me
And that all will be revealed
So I've sat and I've watched an ice-age thaw
Are you the one that I've been waiting for?

Out of sorrow entire worlds have been built
Out of longing great wonders have been willed
They're only little tears, darling, let them spill
And lay your head upon my shoulder
Outside my window the world has gone to war
Are you the one that I've been waiting for?

O we will know, won't we?
The stars will explode in the sky
O but they don't, do they?
Stars have their moment and then they die

There's a man who spoke wonders though I've never met him
He said, "He who seeks finds and who knocks will be let in"
I think of you in motion and just how close you are getting
And how every little thing anticipates you
All down my veins my heart-strings call
Are you the one that I've been waiting for?

Nick Cave "Are You The One That I've Been Waiting For?"

As Luzes da Ribalta



Quando
tu me vires no futebol
estarei no campo
cabeça ao sol
a avançar pé ante pé
para uma bola que está
à espera dum pontapé
à espera de um penalty
que eu vou transformar para ti
eu vou
atirar para ganhar
vou rematar
e o golo que eu fizer
ficará sempre na rede
a libertar-nos da sede
não me olhes só da bancada lateral
desce-me essa escada e vem deitar-te na
grama
vem falar comigo como gente que se
ama
e até não poder mais vamos jogar

Quando
tu me vires no music-hall
estarei no palco
cabeça ao sol
ao sol da noite das luzes
à espera de outro sol
e que os teus olhos os uses
como quem usa um farol
não me olhes só dessa frisa lateral
desce pela cortina e acompanha-me em
cena
vamos dar à perna como gente que se
ama
e até não poder mais
vamos bailar

Quando
tu me vires na televisão
estarei no ecrã
pés assentes no chão
a fazer publicidade
mas desta vez da verdade
mas desta vez da alegria
de duas mãos agarradas mão a mão no
dia a dia
não me olhes só desse maple estofado
desce pela antena e vem comigo ao
programa
vem falar à gente como gente que se
ama
e até não poder mais
vamos cantar

E quando
à minha casa fores dar
vem devagar
e apaga-me a luz
que a luz destoutra ribalta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta
às vezes não me seduz
às vezes não me faz falta.

Sérgio Godinho "Espectáculo"

Monday, March 01, 2004

Filhos de um Deus Menor


Em Mystic River de Clint Eastwood a vida de três crianças é trágica e (como viremos a descobrir mais tarde) irreversivelmente abalada pelo rapto e violação de uma delas. Essa data ficará gravada simbolicamente no chão de cimento, com o nome de uma delas inacabado. Como a sua própria vida, inacabada. Dave vai crescer, casar e ter um filho, mas nunca mais irá deixar aquela cave fria e escura de onde apenas fisicamente conseguiu escapar. Sean e Jimmy não saem incólumes, um assume a missão de proteger os inocentes e fazer cumprir a lei e torna-se policia, o outro, num homem frio e manipulador que não olha a meios para atingir os seus fins. Sob o signo de uma nova tragédia o caminho deles vai cruzar-se novamente cumprindo o seu destino de personagens de uma tragédia grega.
Em A Festa de Thomas Vinterberg, a celebração do 60º aniversário de um respeitado patriarca, é o pretexto para um banquete onde será servido um sórdido segredo, numa bandeja de prata. Num discurso supostamente de louvor ao pai, Christian irá revelar um tortuoso passado de abusos sexuais, de que ele e os seus irmãos foram vitimas durante anos, trazendo novos contornos ao suicídio da sua irmã, ocorrido meses antes.
Numa altura em que a pedofilia está no centro da arena do circo mediático em Portugal, estes dois filmes assumem contornos ainda mais inquietantes. Todos falam das figuras públicas que poderão estar ou não envolvidas, do segredo de justiça e da prisão preventiva, mas poucos se interrogam sobre o que na minha opinião mais importa. O que está a ser feito para evitar que crianças sejam vitimas de mais abusos? E o que está a ser feito, para minorar o sofrimento das crianças que foram sistematicamente violadas durante os anos em que todos fecharam os olhos a este crime abjecto, que destruiu a sua infância e marcou para sempre o seu percurso de adultos?