Wednesday, December 31, 2003

New Year's Day



Penso que o melhor que posso desejar a todos para 2004 é que o céu se mantenha no seu lugar e não nos caia em cima da cabeça. de resto parafraseando Bono Vox "nothing changes on new year's day".

Yeah...

All is quiet on New Year's Day
A world in white gets underway
I want to be with you
Be with you night and day
Nothing changes on New Year's Day
On New Year's Day

I will be with you again
I will be with you again

Under a blood red sky
A crowd has gathered in black and white
Arms entwined, the chosen few
The newspapers says, says
Say it's true it's true...
And we can break through
Though torn in two
We can be one

I...I will begin again
I...I will begin again

Oh...
Maybe the time is right
Oh...maybe tonight...

I will be with you again
I will be with you again

And so we're told this is the golden age
And gold is the reason for the wars we wage
Though I want to be with you
Be with you night and day
Nothing changes
On New Year's Day
On New Year's Day

U2 - «War» 1983

Tuesday, December 30, 2003

Aforismo Amoral (IV)*

«Mahatma Gandhi era vegetariano. As vacas são vegetarianas. Pensamos nas vacas, e em Gandhi, como exemplos de mansidão. Então sugerem alguns, o vegetarianismo pode ser um caminho para a paz. Vai-se a ver melhor, porém, e também Adolf Hitler foi vegetariano. Também os rinocerontes, descritos em toda a literatura como animais irascíveis, se alimentam apenas de ervas. Toda a síntese é uma ignorância. Todas as generalizações são abusivas, inclusive esta.»

*José Eduardo Agualusa - Seis Aforismos Amorais (excerto). Publicado na revista «Pública» a 18/05/2003.

Escrítica Pop

Tal como as pessoas, livros há que partem sem deixar rasto, deixando-nos uma sensação de vazio. Escritica Pop de Miguel Esteves Cardoso foi um desses livros. Compilação de crónicas publicadas em diversos jornais e revistas como o «Se7e», «Jornal» ou na «Música e Som», entre 1980 e 1982, Escritica Pop, surgiu-me como uma revelação na minha pré-adolescência. foi através dele que conheci ou reconheci bandas como a Joy Division, os The Fall, Durutti Column, numa lista mais ou menos extensa que não pretendo reproduzir aqui integralmente.
À  parte isso Escritica Pop é sobretudo um relato de amor (e não raras vezes de ódio) de um homem pela música dos outros, tantas vezes tendencioso, parcial, arrebatador, como todas as paixões.
Agora graças ao aniversário do «Blitz» e da reedição da Assirio & Alvim (na minha modesta opinião a melhor editora portuguesa), reencontrei-o para (espero) não o voltar a perder.

«LOVE WILL TEAR US APART

Fica aqui perto. Da esquerda para a direita, a imagem, sem legenda, lê-se. Perto, lê-se demorada, e intima; é a figura de um amante.
Banham os dedos das mãos quatrocentas mil silabas, e em tudo tocam, agora que o corpo se deixou de encontrar, se deixou procurar. Procura.
As noites nunca são tão escuras quando os homens conseguem esquecer tudo o que aprenderam, faltar a tudo o que prometeram, trair tudo quanto acreditaram, só pelo primeiro cetim de um beijo, nesse sabor doido de boca. Depois, os amantes partem sempre, deixando, sem vida, tudo aquilo que amaram. Partem sempre.
E o que fica, fica perto, dói, não se separa ou atenua - adoece simplesmente, ensinando a quem sente, o prazer terrivel da mágoa, a ininterrupta saudade do que nem sequer foi alegria - uma espécie, enfim, de amor. Numa espécie de corpo que ficou sozinho

Miguel Esteves Cardoso «Escritica Pop», excerto da crónica «Joy Division: Alguns Lugares»



Love Will Tear Us Apart

When routine bites hard,
And ambitions are low,
And resentment rides high,
But emotions won't grow,
And we're changing our ways, taking different roads.

Then love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart.

Why is the bedroom so cold?
You've turned away on your side.
Is my timing that flawed?
Our respect run so dry.
Yet there's still this appeal that we've kept through our lives.

But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

You cry out in your sleep,
All my failings exposed.
And there's a taste in my mouth,
As desperation takes hold.
Just that something so good just can't function no more.

But love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.
Love, love will tear us apart again.

Monday, December 29, 2003

Armageddon Days Are Here



Por detrás da banda "The The" esconde-se um homem. Matt Johnson é um génio visionário, tão simples quanto isto. quem ousar contestar leia com atenção o tema abaixo e de cujo titulo me apropriei para dar nome a este post . foi escrito em 1989 e incluido no álbum "Mind Bomb". Qualquer semelhança com a realidade actual não é pura coincidência; é fruto de um olhar lúcido sobre o mundo e os homens que o habitam.

They’re 5 miles high as the crow flies
Leavin’ vapour trails against a blood red sky
Movin’ in from the east toward the west
With balaclava helmets over their heads, yes!

But if you think that jesus christ is coming
Honey you’ve got another thing coming
If he ever finds out who’s hi-jacked his name
He’ll cut out his heart and turn in his grave

Islam is rising
The christians mobilising
The world is on it’s elbows and knees
It’s forgotten the message and worships the creeds

It’s war, she cried, it’s war, she cried, this is war
Drop your possessions, all you simple folk
You will fight them on the beaches in your underclothes
You will thank the good lord for raising the union jack
You’ll watch the ships out of harbour
And the bodies come floating back

If the real jesus christ were to stand up today
He’d be gunned down by the c.i.a.
Oh, the lights that now burn brightest behind stained glass
Will cast the darkest shadows upon the human heart
But God didn’t build himself that throne
God doesn’t live in israel or rome
God belong to the yankee dollar
God doesn’t plant the bombs for hezbollah
God doesn’t even go to church
And God won’t send us down to allah to burn
No, God will remind us what we already know
That the human race is about to reap what it’s sown

The world is on it’s elbows and knees
It’s forgotten the message and worships the creeds
Armageddon days are here again



Sunday, December 28, 2003

Aforismo Amoral (III)*

«Vi num alvorecer de cacimbo dois rapazes a imitarem o canto das rolas. Um soprava por entre as mãos em concha num limpido arrulhar, o outro respondia, e era como se as aves estivessem ali mesmo, na lama da rua, exorcizando com o vigor do seu canto as sombras derradeiras. Se eu não tivesse visto os dois rapazes, se apenas os tivesse escutado, teria sido verdade, para mim, que havia rolas desarrumando a madrugada.

A verdade é uma ilusão por revelar

*José Eduardo Agualusa - Seis Aforismos Amorais (excerto). Publicado na revista «Pública» a 18/05/2003.

First We Take Manhattan (Then We Take Berlin)



They sentenced me to twenty years of boredom
For trying to change the system from within
I'm coming now, I'm coming to reward them
First we take Manhattan, then we take Berlin
I'm guided by a signal in the heavens
I'm guided by this birthmark on my skin
I'm guided by the beauty of our weapons
First we take Manhattan, then we take Berlin

I'd really like to live beside you, baby
I love your body and your spirit and your clothes
But you see that line there moving through the station?
I told you, I told you, told you, I was one of those

Ah you loved me as a loser, but now you're worried that I just might win
You know the way to stop me, but you don't have the discipline
How many nights I prayed for this, to let my work begin
First we take Manhattan, then we take Berlin

I don't like your fashion business mister
And I don't like these drugs that keep you thin
I don't like what happened to my sister
First we take Manhattan, then we take Berlin

I'd really like to live beside you, baby ...

And I thank you for those items that you sent me
The monkey and the plywood violin
I practiced every night, now I'm ready
First we take Manhattan, then we take Berlin

I am guided

Ah remember me, I used to live for music
Remember me, I brought your groceries in
Well it's Father's Day and everybody's wounded
First we take Manhattan, then we take Berlin

Saturday, December 20, 2003

Para Além das Nuvens



é o nome de um dos últimos filmes de Michelangelo Antonioni e que contou com a colaboração do cineasta alemão Wim Wenders. "A minha ânsia de ver é tão grande que os meus olhos gastam-se. e será esse desgaste das pupilas a doença que me levará à morte", diz John Malkovich, aqui no papel de um realizador que percorre a Europa em busca de imagens e inspiração para o seu próximo filme. a crise de criatividade como mote de um filme de uma beleza rarefeita como um céu de Setembro.

Aforismo Amoral (II)*

«Na minha cidade natal, Huambo, podia ouvir, nas noites de vento, o àspero rugido dos leões. Sempre que conto isto a amigos europeus eles ficam muito impressionados. Não lhes conto é claro, que morava a quinhentos metros do jardim zoológico.

Entre a verdade e a mentira o silêncio dá belas flores.»

*José Eduardo Agualusa - Seis Aforismos Amorais (excerto). Publicado na revista «Pública» a 18/05/2003.

Friday, December 19, 2003

O Céu Sobre Berlim IV - Baader Meinhof



Berlim, 1970. Andreas Baader é preso numa operação stop da policia, sob a acusação de terrorismo. dois anos antes Baader e a sua namorada Gudrun Esslin tinham fundado a "Facção Exército Vermelho" (RAF) com a qual pretendiam iniciar uma revolução de inspiracção marxista.
Entretanto Ulrike Meinhof uma jornalista com estreitas ligações aos movimentos estudantis, é assediada por Esslin para libertar Baader da prisão. Com duas filhas e uma carreira jornalistica reconhecida, Meinhof hesita, no entanto o fervor revolucionário fala mais alto e a 14 de Maio o plano é posto em práctica.
sob o pretexto de uma reportagem sobre os grupos terroristas de esquerda que despontam um pouco por toda a Alemanha, Meinhof consegue obter autorização para levar Baaden até ao Instituto Dahlem. Sob escolta policial Baaden chega ao Instituto mas não permanecerá por aí muito tempo. minutos depois membros da RAF irrompem pela sala de leitura disparando indiscriminadamente. a partir desta data nasce aquele que popularmente seria designado por Grupo Baader-Meinhof.
durante os dois anos seguintes o Grupo será alvo de perseguição cerrada por parte da policia. a par dos atentados a RAF assalta bancos para financiar a compra de armamento e desloca-se uma temporada até á  Jordânia onde treinam guerrilha urbana num campo palestiniano.
em 1972 o grupo é encurralado numa rua de Frankfurt e após intenso tiroteio os principais elementos do Grupo são capturados entre os quais Andreas Baader, a sua namorada Gudrun Esslin e Ulrike Meinhof.
Em 1976 Ulrich Meinhof é encontrada enforcada na sua cela, do complexo prisional de alta segurança de Stammheim, em Estugarda, a tese de suícidio será contestada até aos nossos dias. Um ano mais tarde Andreas Baader, Gundrun Esslin e Jan Carl Jaspe, são também encontrados mortos nas respectivas celas, com tiros de pistola. mais uma vez a tese de suicidio é posta em causa. como foi possivel introduzir armas numa prisão como a de Stammheim foi a pergunta mais insistentemente repetida e para a qual nunca seria encontrada resposta. Sobre o Céu de Berlim uma gigantesca manifestação acusaria a policia e o governo de abuso de poder e de silenciar os seus cidadãos mais incómodos. uma coisa estava garantida Andreas Baader e Ulrich Meinhof tinham um lugar garantido no imaginário popular.

Wednesday, December 17, 2003

Aforismo Amoral (I)*

«Um rapaz corre de mota numa estrada secundária. O vento bate-lhe no rosto. O rapaz fecha os olhos e abre os braços, como nos filmes, sentindo-se vivo e em plena comunhão com o universo. Não vê o camião irromper do cruzamento...

... Bum!...

Morre feliz. A felicidade é quase sempre uma irresponsabilidade. Somos felizes durante os breves instantes em que fechamos os olhos.»

*José Eduardo Agualusa - Seis Aforismos Amorais (excerto). Publicado na revista «Pública» a 18/05/2003.


Bebo, fumo, mantenho-me atento, absorto - aqui sentado junto à janela fechada. Ouço-te ciciar «amo-te» pela primeira vez, e na ténue luminosidade que se recolhe ao horizonte acaba o corpo.
Recolho o mel, guardo a alegria e digo-te baixinho:
«apaga as estrelas, vem dormir comigo no esplendor da noite do mundo que nos foge»


Al Berto, «Lunário»

Monday, December 15, 2003

Outono



Gosto das cores cálidas do outono. do suave cadenciar das folhas que caem num melancólico adeus. do cheiro da terra molhada após as primeiras chuvas, do brilho baço do sol que nos acaricia o rosto e do estalar das folhas debaixo dos pés. e gosto dos poetas que cantam o outono como eu nunca serei capaz de o fazer.

Cidade Universitária

Era em Setembro nos anfiteatros vazios,
na alameda que subia para onde nos deviamos encontrar,
e não estavas; era um outono que caía sobre
as árvores do estádio, empurrando-lhes
as folhas para cima da mesa da esplanada, onde está vazia a mesa em
que as minhas mãos deviam procurar as tuas; era
a tua ausência em todos os lugares em que eu sabia
que poderias estar à minha espera, e só a sombra
das nuvens me trazia a memória da tua passagem, como
se fosses a ave que parte quando o primeiro sopro
do inverno se anuncia.

Que fazer sem ti, nestes anfiteatros de bancos
vazios, nos corredores melancólicos que levam para
átrios e pátios, nesses relvados onde não vale a pena
sentar-me, perguntar-te se gostas do outono, ou dizer que
os teus olhos é que valem a pena, agora que vejo, neles,
as nuvens que correm para o sul? E tu, sem estares aqui,
dizes-me que não é preciso que eu me lembre de ti; que
estás para chegar, de trás das árvores do estádio, para
limpares de folhas a mesa da esplanada, e pedires-me que
pegue nas tuas mãos, como se o inverno
não estivesse para chegar.

Mas um cansaço antigo prende-me a estes bancos
de anfiteatro; uma indecisão de passos empurra-me por
corredores e salas, em busca de um bar que fechou
há muito; o vento varreu as folhas da mesa
da esplanada, tirando a única justificação para que venhas. Abro,
então, as gavetas do passado. Tiro cartas, fotografias,
poemas, o livro em que me escreves-te a frase interrompida
do amor. Como se eu não soubesse que as nuvens encheram
de sombra todas as imagens; que os pássaros levaram
para o sul tudo o que tinhas para me dizer; que
as folhas no chão cobriram o teu corpo, antes que
o inverno tivesse de o fazer.


Nuno Júdice - Cartografia de Emoções

OST



é a sigla inglesa (Original Soundtrack) para designar o conjunto de temas que integram um determinado filme, reunidos num qualquer suporte audio. na vida como no cinema também tenho a minha banda sonora e às vezes penso no que resultaria a OST da minha vida. no minimo eclética diria. dos Queen, passando por David Bowie, aos Bauhaus, a Peter Murphy, aos Smiths, Joy Division, James, This Mortal Coil... mas mais do que as bandas é os temas que importam, aquela canção que uma vez ouvida nos leva a revisitar lugares, a recordar pessoas, a reviver momentos de alegria e tristeza e tudo isto com uma nitidez absoluta quase palpável.
o tema dos Bauhaus que se segue é um exemplo disso mesmo. quanto ao que me faz recordar...

All We Ever Wanted Was Everything

All we ever wanted was everything
All we ever got was cold
Get up, eat jelly
Sandwich bars, and barbed wire
Squash every week into a day

The sound of drums is calling
The sound of the drum has called
Flash of youth shoot out of darkness
Factorytown

Oh to be the cream (repeat)