Tuesday, June 01, 2004

American Angels



Estreou ontem na 2 e tem tudo para ser uma série perfeita: o selo da HBO (Sexo e a Cidade, Os Sopranos, Sete Palmos de Terra), o Al Pacino, a Meryl Streep e a Emma Thompson, (e já agora também a Mary-Louise Parker) a cidade de Nova Iorque, as melhores piadas sobre mormons e republicanos que já ouvi nos últimos tempos, e claro anjos (que neste primeiro episódio ainda não fizeram a sua aparição). E sobretudo uma forma extremamente original de apresentar o flagelo do século, uma epidemia que em 1985 já tinha nome, mas sob a qual ninguém sabia rigorosamente nada, a não ser que infectava homossexuais e toxicodependentes, destruindo-lhes o sistema imunitário e deixando-os vulneráveis a doenças que de outra forma nunca se manifestariam. Um exemplo é o sindroma de Karposi, o estigma da doença marcado na pele como um sinal para a morte. Ou nas palavras de Al Berto:

aqueles que têm nome e nos telefonam
um dia emagrecem - partem
deixam-nos dobrados ao abandono
no interior duma dor inútil muda
e voraz

arquivamos o amor no abismo do tempo
e para lá da pele negra do desgosto
pressentimos vivo
o passageiro ardente das areias - o viajante
que irradia um cheiro a violetas nocturnas

acendemos então uma labareda nos dedos
acordamos trémulos confusos - a mão queimada
junto ao coração

e mais nada se move na centrifugação
dos segundos - tudo nos falta

nem a vida nem o que dela resta nos consola
a ausência fulgura na aurora das manhãs
e com o rosto ainda sujo de sono ouvimos
o rumor do corpo a encher-se de mágoa

assim guardamos as nuvens breves os gestos
os invernos o repouso a sonolência
o vento
arrastando para longe as imagens difusas
daqueles que amámos e não voltaram
a telefonar

Al Berto "Sida"

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