Profissão: Duro.
Os duros do cinema, encontraram espaço para crescer sobretudo a partir dos anos 40 do século passado (como eu gosto de escrever isto!), encontrando o ambiente propício para crescer na penumbra do film noir.
Sam Spade, alter-ego de Humphrey Bogart, inaugurou um género com a sua gabardina coçada, o olhar impenetrável, a pose sempre “cool” mesmo perante o mais iminente dos perigos, mas sempre disposto a dar a mão a qualquer femme fatale em apuros. John Garfield, James Cagney ou Dick Powell, consolidaram esta imagem do duro com forte apetência para escolher as mulheres erradas que inevitavelmente os arrastavam para uma espiral de conspiração, violência e morte.
Os western foi outro campo prolífico em duros de pernas arqueadas, sotaque carregado e Colt 45 sempre pronta a disparar, como John Wayne, James Stewart, Gary Cooper ou Burt Lancaster.
Em finais da década de 60 os duros tornaram-se policias de dedo nervoso no gatilho, alguns deles recuperados precisamente do western, como Charles Bronson, Clint Eastwood ou Steve MacQuinn, onde o número de balas disparadas era inversamente proporcional ao número de palavras proferidas, o que não impediu que algumas frases como “cam’on make my day” ou “are you feelin’ lucky today?” se tornassem um icone quase tão forte como os personagens que as interpretam.
Nos anos 80 os duros ganharam músculo e perderam a (pouca) subtileza que restava com o despontar de nomes como Sylvester Stallone ou Arnold Schwarzenegger, e mais para o final da década aperfeiçoaram-se nas artes marciais (Steven Seagall ou Jean Claude Van Damme), e perderam de vez qualquer centelha de talento que ainda restava ao género.
Actualmente confesso que tenho prestado pouca atenção ao que se vai passando por aí, mas penso que nada de muito significativo. Os duros à semelhança dos actores que os encarnaram foram amolecendo com o tempo. As personagens foram gradualmente perdendo a densidade dramática, as tramas que os envolviam foram ficando cada vez mais frágeis, sobrou a violência que se extrapolou até atingir o limite do risivel, do absurdo (adorava ouvir a teoria de Freud, em particular sobre este último parágrafo.). Em comum mantiveram o passado traumático (a morte da familia, o alcoolismo, etc), o carácter estóico e obstinado, e a aura de invencibilidade, mas perdeu-se o encanto. Clint Eastwood é o último de uma geração e não me parece que deixará descendentes.
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