Saturday, April 29, 2006
Wednesday, April 19, 2006
Dez anos sobre a morte de Mário Viegas, encontro entre os arquivos cheios de pó digital impressos no disco rígido do computador, um texto que integrava a minha primeira experiência nas ondas hertzianas de uma rádio local. Data de 4 de Julho de 2000 e trouxe-me à memória esses primeiros dias de descoberta, que se vieram a revelar uma paixão duradoura. Atrai-me sobretudo o ambiente acolhedor e a intimidade que nunca encontraria sob a luz ofuscante de um estúdio de televisão. Em muitos aspectos a rádio não é diferente de um blog, deste blog. Quanto ao texto é sofrivel mas beneficiado pela nostalgia de que são feitas as nuvens deste Céu Sobre Berlim.
“Tudo o que faço é por opção. E tenho essa vaidade, tenho a vaidade de manter os valores que escolhi.”
Era assim Mário Viegas, sempre fiel a si próprio e às coisas que amava... O teatro, a poesia, o seu público.
Nunca teve aliás muitas dúvidas acerca do que queria ser quando fosse grande, com apenas 4 anos de idade cria a sua própria companhia Teatral; o teatro ABC, onde assume as funções de Director, Encenador, Único Actor, Cenógrafo e Dramaturgo.
Décadas depois mais exactamente no ano de 1990, funda a Companhia Teatral do Chiado, onde vem a desempenhar praticamente as mesmas funções em grande parte das peças que aí são levadas à cena, até à data da sua morte, em Abril de 1996.
Antiga é também a sua paixão pela poesia. Como ele próprio afirmava, não houve nenhum poema português importante que não lhe tivesse passado pela garganta. Mário Viegas veio a preencher o vazio que João Villaret deixou na alma portuguesa. Recitou poesia um pouco por toda a parte, Liceus, Casas de Recreio, Reuniões Clandestinas durante os anos de contestação estudantil, mas também na rádio ou mesmo na televisão com programas como Palavras Ditas em 1984 ou Palavras Vivas em 1991.
E há também é claro o cinema, quem não se recorda de personagens como o Rei das Berlengas ou Kilas o mau da Fita?
É de certa forma inútil e inglório tentar sintetizar toda a vida e obra de um homem que extravasou a própria vida. Não é fácil gerir este silêncio a que a morte de Mário Viegas nos remeteu, mas como ele próprio gostava de dizer; "Quem não aguenta o silêncio, não aguenta a própria vida".