Um filme Chamado Wanda
A Alice regressou ao País dos Matraquilhos e ainda bem. Isto porque se não há blogs insubstituíveis, há aqueles que deixam um sabor amargo a vazio no espaço superpovoado da Internet. Contudo não foi o seu regresso que me levou a escrever este texto mas sim um post em particular sobre o filme Wanda, de Barbara Loden, em reposição nos cinemas King. Termina a Ana dizendo que este filme só poderia ter sido escrito e realizado por uma mulher e que nenhum homem poderá compreendê-lo. Concordo perfeitamente com a primeira parte. Já a segunda levanta-me algumas reservas, até porque sou homem e alturas houve em que me senti um pouco como aquela mulher. Alturas de depressão e angústia, onde a simples ideia de me levantar da cama assumia contornos da pior das torturas, em que o meu único desejo era ser invisível, passear na vida sem tocar com os pés no chão, um espectro flutuando ao rumo dos acontecimentos. Sim a natureza dos homens e das mulheres é diferente, mas não tanto como sempre nos fizeram crer. Ensinam-nos desde crianças que existe uma barreira intransponível entre os dois sexos, que rapazes brincam com rapazes, raparigas com raparigas. Contacto com o outro sexo só mais tarde na adolescência, por motivos de natureza fisiológica e só por esse motivo. Qualquer tentativa de explicar que é “só amizade” esbarra invariavelmente num sorriso trocista e uma palmadinha cúmplice nas costas. Um rapaz que chora no cinema, que é capaz de dizer que o Jeremy Irons é bonito, que só se dá com raparigas, que gosta de Ballet, que lê poesia em voz alta e adora cozinhar só pode ser um desviante. Um homossexual em suma. Eu que gosto de tudo o que descrevi acima já há muito que me habituei a ser olhado como alguém “não muito normal”, ao que eu respondo: “as pessoas normais não têm nada de especial”, mesmo que não acredite muito nisso. No meu caso pelo menos.
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