Tempos Modernos
depois de duas décadas de vida, sempre errante, sempre marginal, o vagabundo Charlot despede-se a cantar. raras vezes o seu discurso foi tão radical, nunca a sua incapacidade de "pertencer" tão explicita. Charlot vai desafiar todo o sistema, agarrá-lo pelos colarinhos e expô-lo ao ridiculo. sempre de uma forma mais ou menos inconsciente, mais ou menos involuntária, sempre desastrada, sempre sorridente.
a subjugação do homem à linha de montagem, a escravatura dos indices de produção, a perda de identidade em detrimento da integração numa enorme massa anónima, desprovida de toda e qualquer vontade, que não a de obedecer aos designios de patrões e sindicatos. sempre alheio, sempre ausente. a esta força que esmaga tudo e todos sem piedade, o vagabundo e a orfã respondem com o amor. e juntos partem estrada fora animados por um sentimento de vitória, que só os amantes sabem explicar ou compreender.