Wednesday, February 04, 2004

Segundo rezam as crónicas os GNR - sigla para Grupo Novo Rock - terão nascido em 1979 na cidade Invicta. Em 1981 “Portugal na CEE” e “Ser um GNR”, constituem os primeiros singles de que há registo, ainda no entanto sem a voz e as letras de Rui Reininho, que entraria na banda um ano mais tarde, em 1982 o ano em que era editado “Independança” o primeiro LP dos GNR. Na mesma altura sensivelmente saía Vitor Rua, baixista e membro fundador da banda, sendo substituido por Jorge Romão. “Defeitos Especiais” de 1984 seria o primeiro álbum com Romão e o último com Alexandre Soares que partiria para outros projectos, nomeadamente os “Três Tristes Tigres”, provavelmente a banda portuguesa mais difícil de pronunciar de todos os tempos.
Segue-se “Os Homens Não Se Querem Bonitos” (1985), Psicopátria (1986), “A Valsa dos Detectives” (1989).
“In Vivo” o primeiro (e único até à data) álbum ao vivo dos GNR, seria alvo de uma intensa polémica, quando Vitor Rua moveu um processo exigindo a retirada de temas da sua autoria. Vencida a batalha judicial “In Vivo” é retirado do mercado e reeditado sem as músicas censuradas. O álbum com as músicas “proíbidas” torna-se alvo do apetite de coleccionadores e “In Vivo” um fenómeno de vendas, como que a provar que a polémica é um excelente veículo de marketing. “In Vivo” marca também uma época. Depois disso os GNR não seriam mais os mesmos. Dir-se-ia que o Grupo Novo Rock envelheceu, ou talvez cedesse a uma lógica mercantilista onde nunca deixaram de procurar um sucessor para “Dunas”, a música de celebração adolescente que acompanhou as férias grandes de uma geração. As letras de Reininho outrora de uma acidez surreal, pejada de trocadilhos com significados mais ou menos obscuros, ainda se pode encontrar num o outro tema disperso, mas houve qualquer coisa que definitivamente se perdeu na viragem para os anos 90, o que é pena. Fazem muita falta bandas assim em Portugal, com identidade e sonoridade próprias, porque não basta vir fazer o choradinho de que não se apoia a música portuguesa, é preciso merecer. E olhando para a música portuguesa ao longo dos anos 90 e inícios do século XXI, conta-se pelos dedos de uma mão as bandas que realmente fizeram alguma coisa por isso.

SENTIDOS PÊSAMES

Ele há gente que vive de si
Ele há vícios de que a gente se ri
Todos me falam nunca os conheci
Assisto ao seu enterro metam-nos pr'aí

Os meus sentidos pêsames
Que pena não viveres mais aqui

Ele há músicos qu'eu nunca ouvi
Ele há estilistas qu'eu nunca vesti
Ele há críticas que eu nunca percebi
E até managers de quem não recebi

Os meus sentidos pêsames
Sinceros parabéns por desistires de vencer
Os meus sentidos pêsames
Saudades de quem não se sabe vender aqui
Onde eu já vivi. Sem saber como nem quando. Onde eu já dormi
Condolências para quem continua sem saber. O que faz aqui
Como eu só vivi. Também já acordei um dia sozinho
E no entanto lembrei-me de ti. Aceita as
Condolências deixa-te morrer. Não fazes falta aqui.
Quando te fores haverá sempre elogios. E alguém
Que se riu de ti. Onde eu já vivi.

Os Homens Não Se Querem Bonitos, 1985

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