Thursday, October 30, 2003

Infância



as saudades da infância assaltam-me o espirito a intervalos regulares... especialmente nos momentos em que a vida de adulto se impõe de forma mais violenta, com todas as suas obrigações, deveres, responsabilidades e afins. saudades de um tempo onde o tempo nada significava. como o poema que o anjo recita e não consegue compreender, no filme de Wenders.

Quando a criança era criança
Ela caminhava com os braços balançando
Ela queria que a ribeira fosse um rio,
O rio uma torrente
E uma poça d'água, o mar.

Quando a criança era criança,
Ela não sabia que era criança.
Tudo era inspirado nela,
E todas as almas eram uma só.
Quando a criança era criança,
Não tinha opinião sobre nada,
Não tinha nenhum hábito
Sentava-se de pernas cruzadas,
E saía a correr de repente.
Tinha um redemoinho no cabelo
E não fazia caretas quando ia tirar fotografias.

Quando a criança era criança,
Era a época das perguntas:
Por que eu sou Eu
E não Tu?
Por que eu estou aqui e
por que não lá?
Quando começou o tempo
E onde termina o espaço?
A vida sob o sol não é apenas um sonho?
Não seria tudo o que eu posso ver, ouvir e cheirar
Apenas a aparência de um mundo anterior a este mundo?
Existem mesmo o Mal
E pessoas que são realmente más?
Como é que eu, o Eu que eu sou,
Antes que eu viesse a ser, não era ?
E como é que uma dia eu,
o Eu que eu sou, não mais serei
o eu que Eu sou?"

Peter Handke

Sunday, October 26, 2003

Ondas de Paixão



é um dos filmes da minha vida e no entanto vi-o apenas duas vezes. ambas em 1995. sempre resisti à tentação de o ver na televisão ou em video porque achava que não fazia sentido. amanhã o King vai exibi-lo às 11 da manhã. eu vou lá estar, depois falamos.

And Now For Something Completely Diferent...



humm... estava aqui a olhar para o meu blog e achei que estava a ficar com o ambiente demasiado pesado... então decidi abrir uma janela e ouvir os ensinamentos de um rapaz chamado Brian, que um dia, cantou esta canção para nos salvar. não salvou. o mundo ficou na mesma e seguiu o seu rumo. mas pelo menos é uma linda canção.

Bright Side of Life

Always look on the bright side of life.
[whistling]
Always look on the light side of life.
[whistling]

If life seems jolly rotten,
There's something you've forgotten,
And that's to laugh and smile and dance and sing.
When you're feeling in the dumps,
Don't be silly chumps.
Just purse your lips and whistle. That's the thing.
And...

Always look on the bright side of life.
[whistling]
Always look on the right side of life,
[whistling]

For life is quite absurd
And death's the final word.
You must always face the curtain with a bow.
Forget about your sin.
Give the audience a grin.
Enjoy it. It's your last chance, anyhow.
So,...

Always look on the bright side of death,
[whistling]
Just before you draw your terminal breath.
[whistling]

Life's a piece of shit,
When you look at it.
Life's a laugh and death's a joke. It's true.
You'll see it's all a show.
Keep 'em laughing as you go.
Just remember that the last laugh is on you.
And...

Always look on the bright side of life.
[whistling]
Always look on the right side of life.
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]
Always look on the bright side of life!
[whistling]

Thursday, October 23, 2003

Lisboa

Image hosted by Photobucket.com
saiu para a rua. embrenhou-se na espessura da noite. amou e traiu. seduziu e deixou-se seduzir, morreu um pouco todas as manhãs e nunca mais regressou ao que tinha sido.
Al Berto - Lunário.

acredito que em todos os romances existe um parágrafo que os define. uma crença baseada na fé como todas as outras e desprovida de qualquer fundamento que não o da fé por si só.

Mistery White Boy



às vezes pergunto-me porque teimo em ouvir, ler ou ver certas coisas. livros de poetas ditos e malditos, quadros de pintores atormentados, peças de teatro escritas por dramaturgos, que expiam nos actores os seus pecados, fragmentos de celulóide dispersos ao acaso, por realizadores incompreendidos e mal-amados. por músicos que se imolam no palco e passam como estrelas cadentes, sem que tenhamos tempo de formular um último desejo.
Tentei contrariar este impulso, como se evita puxar de um cigarro ou qualquer outra coisa que consideramos nociva. os resultados foram iguais em ambos os casos. continuo a fumar imenso e a absorver a tristeza dos outros, as suas dúvidas, os seus anseios, as "falsas esperanças" de que falava Pessoa. sim, porquê se tudo aquilo me entristece e eventualmente me magoa?
as respostas foram surgindo lentamente e já tenho duas ou três teorias fundamentadas q.b. para apaziguar qualquer dor de consciência.
fiz aliás, o mesmo com o tabaco. fumar faz mal e eventualmente pode matar, mas um piano de cauda, também pode matar se cair em cima de alguém e não é por isso que defendo que a Maria João Pires deve deixar de tocar.
Jeff Buckley. poucos há que tenham cantado de forma tão nua e crua, o sentimento de perda. um estado de permanente orfandade, como se faltasse sempre qualquer coisa, que nem sequer conseguimos definir muito bem. por vezes e por breves instantes, esse vazio é preenchido. outras mais raras ainda transborda, inunda-nos os sentidos e tudo é perfeito nesse breve instante. mas no fim é a perda que prevalece. sempre. e mesmo que por vezes a música magoe, a verdade é que também conforta saber que há alguém que partilha das nossas angústias. e por momentos não nos sentimos tão sós.

What Will You Say

(Jeff Buckley, Chris Dowd, C. Azar)

It's been such a long time
And I was just a child then
What will you say
When you see my face?
Time feels like it's flown away
The days just pass and fade away
What will you say
When they take my place?

It's funny now
I just don't feel like a man
What will you say
When you see my face?
My face...

Mother dear, the world's gone cold
No one cares about love anymore
What will you say
When you see my face?

Father do you hear me?
Do you know me?
Do you even care?
What will you say
When they take my place?

My heart can't take this anymore
What will you say
When you see my face?
When you see my,
See my face...

I can feel your time crawling
To a slow end
I can feel my time crawling
To a slow end...

Mother dear, the world's gone cold
No one cares about love anymore
What will you say
When you see my face?

Father do you hear me?
Do you know me?
Did you even care?
What will you say
When you take my place?

Well it's so funny now
I just don't feel like I'm a man
What will you say?




Tuesday, October 21, 2003

telefone



assim guardamos as nuvens breves, os invernos, o repouso, a sonolência
o vento... arrastando para longe as imagens difusas, daqueles que amámos e não voltaram a telefonar


Al Berto - Sida - Horto dos Incêndios

O Céu Sobre Berlim...


a tradução literal para Der Himmel Über Berlin ou a explicação possivel para o endereço deste blog.
os anjos de Wim Wenders são perfeitos, imortais, não têm sentimentos e são incapazes de exprimir uma emoção que seja. limitam-se a observar e a tirar apontamentos sobre os pensamentos dos humanos, num pequeno bloco de notas. mas alguns sentem um estranho apelo por aquela conturbada e imperfeita forma de vida. a solução é deixarem-se cair. Damien é um desses anjos, impulsionado pelo fascinio de uma trapezista de circo. por ela vai transformar-se em humano, com ela vai aprender a viver.
fredericohartley@hotmail.com

fotografia de Al Berto, tirada por Paulo Nozolino, utilizada para ilustrar a primeira edição de "O Medo".

"... mas um homem em cujo coração se tenha concentrado toda a fúria de viver pode ser um homem feliz? não sei se posso querer alguma eternidade... não sei. o que vejo já não se pode cantar"
Morte de Rimbaud – Al Berto – Coliseu de Lisboa 1996



Passover

This is the crises I knew had to come
Destroying the balance
I'd kept
Doubting and settling and turning around
Wondering what will come next

Is this the role that you wanted to live
I was foolish to ask for so much
Without the protection and infancy's guard
It all falls apart at the first touch

Watching the reel as it comes to a close
Brutally taking its time
People who change for no reason at all
It's happening all of the time

Can I go on with this train of defense
Disturbing and purging my mind
I count up my duties -
when all's said and done
I know that I'll lose every time

Moving along in our God given ways
Safety is sat by the fire
Sanctuary from these feverish smiles
Left with a mark on the door

Is this the gift that I wanted to give
Forgive and forget's
what they teach
I'll pass through the deserts and waste -
lands once more
And watch as they drop by the beach

This is a crises I knew had to come
Destroying the balance I'd kept
Turning around to the next set of lies
Wondering what will come next

Joy Division "Closer", 1980

Elvis Has Left The Building


ninguém nos vai salvar de nós mesmos, as palavras mágicas perderam-se na infância, juntamente com as fadas, os duendes e os seres mitológicos que povoavam os nossos sonhos... e o que dizer dos ídolos da nossa adolescência e das outras que nos precederam e daquelas que hão-de vir? morreram todos à mingua de excesso, devorados por aqueles que os criaram. Elvis é um exemplo. Jim Morrison, Montgomery Clift, Janis Joplin, James Dean, Ian Curtis, Marilyn Monroe, Tim e Jeff Buckley, Frances Farmer, Anais Nin, Sylvia Plath... a lista é interminável. todos têm aqui o seu espaço. a seu tempo claro.