Saturday, February 14, 2004

Sunday Bloody Sunday



Londonderry, 1972. Após a publicação de uma lei que permitia a prisão de elementos suspeitos de terrorismo sem julgamento, a Associação de Defesa dos Direitos Civis na Irlanda do Norte, convoca uma marcha de protesto (ilegal porque o Parlamento tinha proibido todas as manifestações) agendada para a tarde de 30 de Janeiro. Às 14.50 desse mesmo dia 10.000 católicos reúnem-se no bairro de Creggan com o objectivo de prosseguirem em protesto até à praça de Guildhall no centro da cidade.

As tropas britânicas estabelecem um perímetro de segurança à volta da praça, colocando barricadas nos principais pontos de acesso ao local da manifestação. Para evitar conflitos os membros da organização descem a rua Rossville, procurando contornar a barricada instalada na rua William. No entanto alguns membros deixam-se ficar para trás e têm inicio os primeiros confrontos, com os manifestantes a arremessar pedras e cocktails molotov às tropas, que respondem com balas de borracha e canhões de água.
Entretanto o exército composto por elementos do regimento de pára-quedistas, recebe ordens para avançar sobre os manifestantes e prender o máximo número de desordeiros e dispersar os restantes.

A partir daqui as versões divergem, o exército afirma que foi recebido com tiros e que disparou em legitima defesa contra elementos armados. Os católicos afirmam que foram as forças britânicas que iniciaram o tiroteio, disparando indiscriminadamente contra os manifestantes. A verdade inquestionável é que após 25 minutos de intenso tiroteio, treze católicos jaziam mortos e um número indeterminado de pessoas estavam feridas. A maioria dos mortos eram adolescentes, seis deles com apenas 17 anos, uma 14ª pessoa viria a falecer na sequência dos ferimentos.

Um inquérito instaurado logo após o massacre que ficaria conhecido como “Sunday Bloody Sunday” determinou que o exército agira com “alguma irresponsabilidade”, mas aceitou a alegação de legitima defesa e o caso foi rapidamente encerrado. A partir desta data a violência na Irlanda do Norte aumentou exponencialmente e a questão “Sunday Bloody Sunday” permaneceria uma ferida aberta durante mais de duas décadas com os católicos a exigirem um segundo inquérito por parte das autoridades. Em 1998 com o objectivo de reforçar o instável acordo de paz acordado nesse mesmo ano, o primeiro-ministro britânico, Tony Blair anuncia que um novo inquérito será aberto com o objectivo de apurar integralmente a verdade dos factos.
Durante estes últimos seis anos foram recolhidos mais de 1700 testemunhos dos quais 900 foram convocados para comparecer na comissão de inquérito (instalada no edifício de Guildhall, a escassos metros do local do massacre), entre militares, testemunhas oculares, jornalistas e membros do governo à data dos acontecimentos.
Ontem foram ouvidas as últimas testemunhas estimando-se que na primavera de 2005 sejam conhecidas as conclusões finais deste processo.
E sobretudo espera-se que este seja mais um passo para a pacificação na Irlanda do Norte, uma terra manchada pelo sangue e pela violência ao longo de décadas.

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