Já Bocage não sou!... À cova escura
Meu estro vai parar desfeito em vento...
Eu aos Céus ultrajei! O meu tormento
Leve me torne sempre a terra dura.
Conheço agora já quão vã figura
Em prosa e verso fez meu louco intento;
Musa!... Tivera algum merecimento
Se um raio de razão seguisse pura!
Eu me arrependo; a língua quase fria
Brade em alto pregão à mocidade,
Que atrás do som fantástico corria.
Outro Aretino fui... A santidade
Manchei - ... Oh! Se me creste, gente ímpia,
Rasga meus versos, crê na eternidade!
Manuel Maria Barbosa du Bocage, 1805 - 2005
confesso que a primeira vez que li este poema fiquei um pouco desiludido com este acto de contrição. no entanto no decorrer dos anos fui aprendendo que aos libertinos tudo é permitido. retratar-se poeticamente inclusive.
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