Aforismo Amoral (V)*
«Um viajante cai do futuro e estatela-se em pleno Largo do Chiado. Levanta-se, sacode a poeira da roupa, ensaia dois ou três passos, ainda um tanto aturdido, e finalmente interroga Fernando Pessoa:
“Em que tempo estou?”
Faz uma bela noite de verão. O poeta ergue-se devagar do seu silêncio de bronze. Estuda, sem surpresa o viajante. Suspira, enfim, morto de tédio:
“Em toda a parte todo o tempo é igual. De onde você vem, por exemplo, não há mais futuro do que agora. Há apenas mais passado.”»
*José Eduardo Agualusa - Seis Aforismos Amorais (excerto). Publicado na revista «Pública» a 18/05/2003.
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